Em 02 de abril de 1964
Gen Bda EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI - Cmt da AMAN
Como é imperativo nas situações de emergência que, por dever de ofício,
vez por outra têm de enfrentar as Forças Armadas, a atitude histórica
tomada pela Academia Militar das Agulhas Negras foi fruto de acendrado
espírito patriótico, de profunda reflexão e do reconhecimento de suas
grande responsabilidades no panorama nacional.
O senso de patriotismo, que temos cultivado diuturnamente, nos vem da
apreciação das páginas gloriosas de nossa História e da devoção, sincera
e continuada, que nos empenhamos em manter e fortalecer para com os
elementos fundamentais da nacionalidade brasileira.
A meditação, dedicada à evolução da situação nacional e, muito
particularmente, à sua fase aguda, nos foi propiciada pelo interesse em
bem servir às legítimas aspirações de nosso povo, pela formação que nos
foi proporcionada no ambiente militar brasileiro e pelo equilíbrio que,
de regra, soe advir da convicção nos ideais formulados e perseguidos
pelos que amam o seu berço natal, a sua família e a sua Pátria.
As responsabilidades da Academia no panorama nacional sempre se nos
afiguraram patentes, em face dos anseios que nos norteiam, do trabalho
que habitualmente executamos e do muito que, num Exército eminentemente
democrático, produzimos dia-a-dia em prol da segurança nacional e do
progresso geral do país.
Estes três pontos básicos, meus camaradas, materializam a orientação
que, conscientemente e inundados de fervor cívico, seguimos nos últimos
dias. Tenho a certeza absoluta de que, ao seguí-la, adotei a única
direção de atuação que despontava, clara e insofismável, do nosso
passado, de nossa presente preocupação com o restabelecimento da
Hierarquia e da Disciplina, e de nossos anseios relativos ao futuro.
Diante das notícias des ncontradas que inundavam o país, na noite de 31
Mar p. passado, constituí um E M operacional. Coloquei em estado de
alerta o CC e dei ordem de prontidão ao BCS.
Com o evoluir dos acontecimentos, ligados a fatos concretos ocorridos em
vários Estados da Federação, os planos e as medidas de controle foram
sendo aprofundadas e, na madrugada de 1° Abril, por seu Cmt, a Academia
declarou-se a favor daqueles que pugnavam pelo restabelecimento, no
país, do clima coerente com suas tradições cristãs e com os sentimentos
patrióticos da maioria esmagadora do povo brasileiro. Quando o panorama
pareceu claro, a mim e a meus colaboradores diretos, não hesitei um
instante em declarar a grave decisão que tomara, pois a sabia
inteiramente legítima, dada a consciência cívica e o fervor patriótico
de meus comandados.
Em decorrência da decisão formulada, empregamos a Cia Gda do BCS na
vigilância dos pontos críticos em torno de RESENDE, estabelecemos as
premissas do controle da localidade e a efetivação das primeiras medidas
correlatas, e passamos a planejar o emprego do CC.
Na manhã do dia 1°, foram desencadeadas as operações de controle da
cidade e as medidas de segurança convenientes. Enquanto isso ocorria, a
situação militar se complicava no Vale do Paraíba e, diante da
possibilidade efetivamente existente, de tropas do I Exército virem a
dominá-lo em todo o território fluminense, só me restou uma atitude a
tomar, dentro do quadro geral já traçado: ordenar o emprego imediato do
CC na região a E de Resende, em conexão com o 1° BIB (Barra Mansa) e em
ligação com o 5° RI, que avançava de Lorena.
A sorte estava lançada: duas proclamações foram preparadas e divulgadas,
ao tempo em que sentia, a cada minuto, crescer o ardor combativo de meus
comandados, em todos os postos da hierarquia.
O empenho desassombrado da Academia, na ocupação efetiva do terreno e
nos preliminares da luta armada que se desenhava, alcançou repercussão
magnífica para a causa que abraçáramos, seja na população civil, seja no
seio das próprias tropas com que, provavelmente, nos defrontaríamos.
Posso, mesmo, asseverar que nossa atitude se constituiu em fator dos
mais decisivos para o rumo que, afinal, vieram a tomar os
acontecimentos, no Vale do Paraíba e quiçá no BRASIL, cujo ponto,
culminante foi a reunião na Academia, às 1800 horas de ontem, dos dois
eminentes chefes militares que detinham os comandos das forças federais
em SÃO PAULO e na GUANABARA.
Oficiais, Cadetes Sargentos, Cabos, Soldados e Funcionários Civis da
Academia: nosso dever formal e de consciência foi cumprido com elevação
e dignidade. O Exército Brasileiro, democrático e cristão, mais um vez
interveio nas lutas nacionais para restabelecer o rumo adequado a nossos
sentimentos e dos postulados de nossa crença cívica.
Todos podem estar tranqüilos: o que a Pátria de nós poderia esperar lhe
foi dado no momento oportuno e com a abnegação que nos caracteriza, no
quadro geral de uma colaboração irrestrita e corajosa, que tocou
vivamente minha consciência de homem, de cidadão e do soldado. A todos,
pois, o agradecimento enternecido da Pátria Brasileira.
Cadetes!
Ao decidir empregar a Academia e, em especial, o Corpo de Cadetes, eu e
meus assessores diretos fomos tomados de viva emoção. Lançávamos, assim,
o sangue jovem do Exército na liça e corríamos o perigo de vê-lo
umedecer as velhas terras do Vale do Paraíba. Mais forte que ela, porém,
foram o sentimento de nossas responsabilidades e o conteúdo energético
de nosso ideal de, no mais curto espaço de tempo, restaurar os
princípios basilares de nossa instituição. Vosso entusiasmo, vosso
idealismo imaculado, vossa fé nos destinos do país e vossa dedicação aos
misteres militares foram os elementos fiadores da decisão então tomada,
que acabou por contribuir de modo ponderável para a solução da crise, em
nossa área de operações.
Após 29 anos de alheamento, a Academia Militar voltou a empenhar-se
ostensivamente na luta pelo aprimoramento de nossas instituições e pela
tranqüilidade de nosso país. Vós o fizestes, com pleno sucesso e com
admirável galhardia. Que, por isso, a História Pátria lhes reserve uma
página consagradora, fazendo-os ingressar no rol daqueles que, despidos
de qualquer ambição ou interesse subalterno, um dia se dispuseram a
lutar pelo país que nossos descendentes hão de receber engrandecido e
respeitado.
Cadetes: pela História, atingís os umbrais da glória.
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