DIREITA E ESQUERDA SEM USAR A AUTODEFINIÇÃO DO ELEITOR!
Trechos da coluna de Cesar Maia na Folha de SP (27).
1. Uns meses antes da eleição presidencial francesa de 2007, o instituto Ipsos com "Nouvel Observateur" realizaram pesquisa de opinião para conhecer o perfil ideológico do eleitor francês. A idéia era deixar de lado a autodefinição do eleitor. Propunha duas questões: economia e valores. Eram feitas diversas perguntas. O eleitor apontava com o que concordava ou discordava. Partia da ideia de que ser de esquerda em matéria econômica era querer mais Estado. Ser de direita seria dar ao Mercado maior peso. Para garantir a coerência das respostas, as diversas perguntas eram misturadas. O programa as separava para a apuração nestes dois vetores: Estado e mercado.
2. Da mesma forma em relação a valores. Ser de direita, no modelo, seria a adoção de valores Conservadores em relação ao sexo, à vida (aborto), à família, à lei... Ser de esquerda seria adotar valores Liberais. O resultado mostrou que o "partido majoritário" na França era um misto: de esquerda em relação à economia e de direita em relação a valores.
3. O instituto GPP repetiu para o Brasil a mesma pesquisa, adaptando-a às questões mais conhecidas dos eleitores brasileiros, dentro das mesma duas questões. Da mesma forma, agrupou as respostas em função do que seriam visões de economia e valores, de esquerda ou de direita. Exatamente como na França, o "partido majoritário" no Brasil era um misto: de esquerda em relação à economia (mais Estado) e de direita (posição Conservadora) em relação a valores. Num ponto -"propriedade"-, ambas as pesquisas mostraram que havia uma mistura ou cruzamento: na economia, como um elemento de esquerda em relação à não privatização, e nos valores, como de direita em relação ao direito de propriedade.
4. O direito de propriedade é visto pela grande maioria da população como um bem e uma conquista: seu aparelho de som ou TV, sua pequena casa, seu pequeno negócio, sua pequena propriedade, suas roupas, seus CDs... No Chile de Allende, quando a população passou a achar que a estatização chegaria a suas "propriedades" individuais, a base da oposição não apenas cresceu mas foi para as ruas. De passiva, passou a ativa, incluindo, na linha de frente, caminhoneiros, taxistas, lojistas, pequenos proprietários rurais, vindo em seguida setores médios e populares.
5. A surpresa quanto à passividade social em relação ao golpe veio depois explicada por este fator: a propriedade como um valor.
Transcrito do Ex-Blog do Cesar Maia.
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