Disponibilizado no Monitor Mercantil Digital em 11/08/2008 e publicado no Monitor Mercantil de 12/08/2008, pág. 2 (Opinião).
EDUARDO ITALO PESCE (*)
MÁRIO ROBERTO VAZ CARNEIRO (**)
A defesa da soberania e dos interesses do Brasil no Atlântico Sul cabe não só à Marinha, mas também à Força Aérea Brasileira, cuja capacidade de patrulhamento e vigilância do mar necessita ser ampliada. A aviação de patrulha marítima baseada em terra é componente essencial das forças de um Teatro de Operações marítimo.
A principal aeronave de patrulha marítima da atualidade é o quadrimotor turboélice Lockheed Martin P-3 Orion (cuja célula é uma versão militar do Lockheed Electra II), operado pela Marinha dos Estados Unidos e pelas Marinhas ou Forças Aéreas de diversos países. Após cinco décadas de serviço, esta aeronave será substituída nos EUA pelo Boeing P-8A Poseidon, um birreator a jato derivado do Boeing 737-800.
Uma aeronave de patrulha marítima de longo alcance, como o P-3 e seu sucessor, possui grande autonomia de vôo, sendo uma plataforma de múltiplo emprego, capaz de desempenhar missões de guerra anti-submarino, vigilância e esclarecimento marítimo, guerra eletrônica, busca e salvamento, guerra de superfície etc.
Otimizada para operar sobre o mar, esta aeronave pode ter variantes especificamente dedicadas a missões de inteligência, e por vezes ser empregada em missões de reconhecimento sobre áreas terrestres. Versões especializadas do P-3 Orion são usadas pelos EUA, por exemplo, para monitorar o narcotráfico na Amazônia e no Caribe.
Durante a 2ª Guerra Mundial, a aviação de patrulha da FAB foi responsável pelo afundamento do submarino alemão U-199 ao sul do Rio de Janeiro, em 1943. Ao longo dos anos, em episódios como a busca ao navio de passageiros “Santa Maria” (seqüestrado por um grupo político português no início de 1961) e a “Guerra da Lagosta” entre Brasil e França (cujo ápice ocorreu em 1963), a aviação de patrulha também atuou em linha com os interesses nacionais.
Essencial à guerra no mar, a aviação de patrulha é também indispensável em tempo de paz, para vigilância e proteção das águas sob jurisdição nacional. Isto é reforçado pela recente descoberta de reservas petrolíferas a grandes profundidades, na vertente ocidental do Atlântico Sul. A extensão do Mar Patrimonial e da Plataforma Continental brasileiros torna insuficiente o número de aeronaves desse tipo atualmente disponível.
A FAB conta hoje com aproximadamente 20 aeronaves de esclarecimento marítimo Embraer EMB-111 (P-95) Bandeirante-
O “Bandeirulha” (uma das versões militares do bimotor turboélice EMB-110 Bandeirante) é uma aeronave leve, de autonomia limitada e sem capacidade anti-submarino. No início de 2009, porém, começará a ser entregue ao 1º/7º GAv, na Base Aérea de Salvador, um lote de oito P-3AM Orion, modernizados na Espanha pela EADS CASA. O antigo equipamento de missão será substituído pelo sistema multimissão FITS (Fleet Integrated Tactical System).
Há alguns anos, a FAB adquiriu dos EUA um total de 12 aeronaves P-3A de segunda-mão, fora de uso há muito tempo, estocadas ao ar livre no clima desértico de Tucson, no Arizona. Três seriam destinadas à canibalização (servindo como fonte de peças de reposição), oito a missões operacionais e uma ao treinamento de tripulações.
A avaliação operativa destas aeronaves — cuja atuação em apoio à Esquadra será fundamental — deverá ser realizada pela Marinha do Brasil, por meio do Centro de Análise de Sistemas Navais (CASNAV), no Rio de Janeiro. A Marinha e a FAB serão extremamente beneficiadas por essa medida de integração. A capacitação do CASNAV é reconhecida internacionalmente.
O número de aeronaves previsto é ainda insuficiente para atender às necessidades reais da Força Aérea, em operações independentes ou em apoio direto à Marinha. Além disso, em poucos anos haverá necessidade de substituir o P-95 “Bandeirulha”, que entrou em serviço na década de 70 do século passado.
Como alternativa ao P-3AM Orion, a Embraer havia oferecido à FAB o P-99, uma versão de patrulha marítima do birreator de transporte regional EMB-145. Entretanto, sua autonomia foi considerada inadequada para o patrulhamento de extensas áreas marítimas, em missões de duração superior a 12 horas de vôo.
A Embraer produz uma família de birreatores comerciais, cujos modelos de maior capacidade são o EMB-190 e o EMB-195. Ainda não houve anúncio oficial, mas provavelmente um desses dois tipos será usado como base para o desenvolvimento de uma aeronave de patrulha marítima de longo raio de ação, capaz de substituir o P-3A/B/C Orion no mercado internacional, a um custo bem inferior ao do P-8A Poseidon.
Possivelmente, os P-95 “Bandeirulha” da FAB poderão ser substituídos por uma aeronave mais simples e de menor porte que os modelos mencionados anteriormente. No estágio atual, o uso de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) em missões de vigilância marítima é apenas uma possibilidade para o futuro. Tal possibilidade não passou despercebida ao Brasil.
De fato, Brasil e África do Sul estão negociando o desenvolvimento conjunto do Bateleur, um VANT de múltiplo emprego em missões de média altitude e grande autonomia. Conceitualmente, este poderia ser empregado para vigilância das águas jurisdicionais brasileiras, complementando as aeronaves de patrulha de longo raio de ação.
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