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Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

3.26.2008

UM LIVRO CENTENÁRIO

UM LIVRO CENTENÁRIO

23/03/2008

 

Onde quer que eu esteja em minha caminhada, acontece que estou sempre à mesma distância de Deus”.

Thomas Morus, na Utopia

 

 

Em 1904 Max Weber publicou um livro memorável – A ÉTICA PROTESTANTE E O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO – obra esta que, não obstante seus erros crassos e sua falsificação da história, é tida e havida como um marco insuperável da sociologia pelo conhecimento convencional. É o livro-texto obrigatório para todos os estudantes universitários do Ocidente, quiçá do mundo, que entope seus cérebros com falsas verdades e mentiras inteiras. O autor não apenas enganou-se, mas enganou também as gerações sucessivas que o têm lido obrigatoriamente nos cursos superiores. Meus filhos, que são estudantes universitários, tiveram que encarar ainda uma vez a maçaroca insípida do alemão, obrigados que foram por seus professores de Humanidades, especialmente do curso de Sociologia, a digeri-lo.

 

Como uma falsificação histórica dessa envergadura e uma mentira científica – na verdade, a negação da ciência – pôde se manter de pé e atual para os acadêmicos de todo o mundo? Pretendo dar uma breve resposta nas linhas que se seguem. A sociologia de Weber acaba por se tornar mais um capítulo tardio da Reforma religiosa. Weber não esconde sua admiração por Calvino, embora ele próprio não professasse religião. Da sua obra emerge a caricatura de seguidores católicos como seres retrógrados e avessos ao progresso do conhecimento, sendo supostamente os hereges protestantes o seu oposto. Uma absurda falsificação. Desde Orígenes que a Igreja optou pelo Deus dos filósofos, denunciando os deuses mitológicos dos Estados antigos, deuses estes que se confundiam com a própria pessoa do imperador. Jesus não representava os costumes, mas a verdade, para relembrar o famoso dito de Tertuliano. Por isso era o Logos, o mesmo Logos de Platão e Aristóteles. Por isso o cristianismo católico – o cristianismo por antonomásia – era tão subversivo e de fato, depois da figura excelsa de Agostinho, conseguiu domesticar o poder absoluto do Estado. Tão subversivo foi o cristianismo que submeteu o império, moldando-lhe o sistema jurídico, e por séculos implantou na Europa o que Paul Johnson acertadamente chamou de Sociedade Total, que se opõe ao monstro atual ao qual chamo de Estado Total.

 

Antes de Agostinho só Platão conseguiu esse tento, ao dar caráter jurídico ao Estado, um grande momento de iluminação pelo qual os governantes desde então passaram a exercer o poder mediante leis previamente aprovadas pelos representantes do governados, mesmo que por vezes esse representante legislador viesse a ser uma oligarquia ou mesmo um déspota como Júlio César. Desde então nenhum homem foi obrigado a nada senão pela força da lei. A esse processo foi seguido a implantação da igualdade jurídica de todos os cidadãos, culminado com o banimento da escravidão praticamente em todo o Globo. A escravidão é eliminada por obra e graças do cristianismo. Cristianismo é liberdade.

 

O cristianismo foi o segundo passado decisivo na domesticação do poder depois da descoberta de Platão, filósofo que foi contemporâneo do profeta Isaias. O Deus único de Israel não era um Deus estatal, não tinha território e o povo escolhido devia-lhe obediência e não ao poder político. Estava proibido de adora os bezerros de ouro, vale dizer, Moloch e Baal, formas de deuses estatais. Esse é o significado do magnífico símbolo da libertação do povo hebreu do Egito e, depois, do exílio babilônico. Não era uma mera libertação de uma dada situação de cativeiro, mas a libertação do reino desse Mundo contra o qual Cristo veio se opor. A libertação da alma imortal precisa negar o poder de Estado mitológico. O Faraó representava a escravidão de toda a humanidade ao poder mitológico dos Estados em todos os tempos. Reencarnações do Faraó nos tempos modernos foram Hitler, Lênin, Stalin e Mao, para ficar nos mais conspícuos. Em Cuba o processo é plasticamente representado pelas sucessivas fugas em embarcações precárias contra o Faraó mumificado Fidel Castro em busca da liberdade. Os que morreram pulando o Muro de Berlim mostraram o quando custa chegar a Canaã sem que Deus de novo faça o milagre de abri passagem no Mar Vermelho.

 

Weber, com a enorme acumulação de dados eruditos e  irrelevantes sobre religião, não foi capaz de ver esse óbvio, essa grande marcha humana em busca da liberdade cuja fundação é o Deus de Israel e a sua sacramentação na história pelo Advento de Jesus de Nazaré. Cristo diante de Pilatos é a expressão acabada desse processo de civilização. O que é a verdade? Perguntará o romano espantando. O homem sem a ajuda de Deus jamais teria escapado aos grilhões dos Faraós de todos os tempos, dos Césares tão arrogantes quanto efêmeros.

 

Onde o erro de Weber? Na premissa de que a sociedade capitalista emergiu por conta de mudança nas questiúnculas teológicas das heresias cristãs, especialmente aquelas variedades provindas do Calvinismo. Ora, a base capitalista da sociedade foi um processo milenar que vem desde a antiguidade, passando pelo formidável desenvolvimento da agricultura no tempo medievo por obra dos monges católicos, especialmente aqueles vinculados à Ordem de São Bento e a dos monges irlandeses. Os monges dominaram a natureza, aumentaram a produtividade do trabalho e, sobretudo, introduziram formas de trabalho assalariado que revolucionaram o processo produtivo. Questiúnculas teológicas não tiveram qualquer importância para a vida prática. E, essencialmente, as heresias cristãs eram ainda cristãs e a questão relevante era comparar a cristandade com outras formas de civilização ossificadas e paralisadas no tempo, como a islâmica, a chinesa e hindu.

 

O judeu-cristianismo desencanta a natureza e, sobretudo, desdiviniza a política. O imperador não é mais o deus vivo. Quando muito o é pela graça de Deus, com a obrigação de respeitar os preceitos da Igreja e da Bíblia, o direito natural fundado em base teológica, de fazer imperar o reino da Justiça.

 

Por que o capitalismo surgiu na Europa cristã e lhe deu o domínio político, militar e cultural de todo o mundo, submetendo as culturas mais retrógradas desde pelo menos o século XV? Porque o cristianismo é a civilização por antonomásia e dominou porque tinha para dar às demais civilizações o sentido civilizacional. As heresias foram meros desvios que nenhum poder heurístico tem sobre esse processo civilizador. O Ocidente deu sua ciência, sua técnica, suas leis, suas instituições, sua liberdade aos povos conquistados. Seu progresso foi a grande dádiva para o mundo.

 

Weber não notou que muito mais relevante do que as heresias teológicas reformadas foi a emergência das filosofia mortas da antiguidade, nomeadamente o epicurismo e o estoicismo, que dominaram de forma avassaladora a inteligentzia ocidental desde o Renascimento. Weber ignorou solenemente esse fato mais formidável do pensamento e da religião, pois afinal essas duas escolas filosóficas são a alternativa materialista ao cristianismo. São incompatíveis com o cristianismo e foram derrotadas nos século IV e não deveriam ter sido exumadas. Num primeiro momento essas idéias neopagãs permitiram romper com certas amarras espirituais que não deveriam ter sido rompidas, pois eram os diques que de certo modo domava o Mal que impera na alma do homem. Essa ênfase na matéria e a negação do Espírito por parte desses filósofos explicam de forma muito clara a aceleração da dominação da natureza, cujo tento mais eminente é a capacidade que a humanidade tem hoje de auto-destruir-se no holocasuto atômico. Era contra esse Mal intuído em potência que homens como João, o Apóstolo, pregavam . O Apocalipse de São João é uma desesperada proclamação desses perigos transcendentes. O Mal opera e hoje está na mão de pessoas moralmente desqualificadas e apartadas de Deus a decisão de apertar os gatilhos do Armagedon. Já o fizeram uma vez, nada impedirá que o façam novamente.

 

O erro metodológico de Weber fica evidente já nas páginas iniciais de seu livro, ao citar o longo trecho de Benjamin Franklin, sustentáculo de seu argumento. Certo, Franklin vinha de família calvinista, mas as suas idéias não eram mais cristãs, embora talvez nem mesmo ele tivesse se dado conta disso. Franklin era maçom e até hoje tanto a Igreja Católica como a Presbiteriana não aceitam em seus meios quem milita na maçonaria, o que já torna problemática a sua confissão religiosa. O mais relevante, todavia, é que Franklin, como Jefferson e outros intelectuais de peso da América e da Europa, estavam já totalmente tomados pelas idéias estóicas que se disseminaram no mundo desde a Renascença. A elite européia que rompeu com Roma caiu nas garras das idéias pagãs. A própria Declaração de Independência dos EUA é uma peça estóica acabada, fazendo coro com sua co-irmã Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, editado pela Assembléia Nacional Francesa. As teses da Vontade Geral, da igualdade e dos direitos vindo antes do deveres foram resgatadas das tradições estóicas. E mesmo a idéia de um governo mundial que encontrará em Kant o seu grande teórico é genuinamente estóica e se encontra na obra A República, de Zenon.

 

É espantoso que um intelectual da envergadura de Weber não tenha se dado conta da importância do Estoicismo e do Epicurismo que avassaladoramente tomaram conta das idéias ocidentais. Essas filosofias darão suporte ao desenvolvimento das ciências – a manifestação mais conspícua é o surgimento da teoria do valor-utilidade que alcançou tal hegemonia que não se produz uma linha em ciência econômica, e na ciências sociais em geral, que não esteja firmemente baseada nela. Weber ignorou o mais importante. Questiúnculas teológicas não tiveram nenhuma importância na formação do capitalismo moderno. O risível é que toda a gente bem pensante, influenciada pelo erro de Weber, pensa que sim. Grande engano. A mentira tornou-se a substituta da verdade. É a Babel revivida na mente dos cientistas modernos.

 

Nivaldo Cordeiro

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