Vannuchi diz que há defesa da volta dos DOI-Codis
Wilson Tosta, enviado especial em Porto Alegre
"Não tinha lido, nos últimos anos, uma confissão tão clara de que, se for preciso construir DOI-Codis de novo, vamos construir DOI-Codis de novo", declarou o secretário, em referência aos Destacamentos de Operações de Informações - Centros de Operações de Defesa Interna, organismos de repressão política comandados pelo Exército nos anos 70, sobre cujos ex-integrantes pesam acusações de tortura e assassinato.
Em entrevista, Vannuchi amenizou o discurso. "Puxa vida, 21 anos de reconstrução democrática, e ainda existem pensamentos que ecoam a ideia de que, na diferença, não aceito opinião diferente da minha, e, se a pessoa insistir, queime-se quem faz a defesa. Está errado, é preciso conviver, o Fórum Social Mundial é uma grande demonstração disso, há pluralidade, há divergência."
O secretário afirmou ser bom que "esses segmentos utilizem atualmente o instrumento da notícia na imprensa, de articulação de uma ofensiva como essa, porque em outros momentos da história se utilizaram de dispositivos muito menos democráticos do que esses". Foi nesse contexto que acusou seus críticos de quererem a volta dos órgãos de repressão
MANIFESTAÇÃO
Vannuchi aproveitou a oficina para rebater críticas ao PNDH-3 e para criticar a imprensa. "Fui lembrado como terrorista, uma revista disse "não conseguiu no revólver, quer conseguir na caneta"", reclamou. Ele negou que a proposta de criar a Comissão da Verdade, que investigaria crimes ocorridos na ditadura, tivesse como objetivo revogar a Lei de Anistia. "Bastava ler, está lá, com todas as letras, né, "observadas as disposições da lei 6.683", ou bastava o colega jornalista, quem sabe o editor, ir lá e ler, se quisesse noticiar direitinho, ver que não é contra a Lei de Anistia, havia um amplo consenso de não revisar a anistia." Segundo ele, os ataques que sofreu tiveram, em algumas publicações, "pequenas características de linchamento". "Não vamos reagir com o mesmo espírito de ataque a quem nos chamou de revanchista, procurar uma palavra equivalente, porque em direitos humanos o instrumento é o diálogo, a explicação paciente, perseverante, reconhecendo a alteridade", pregou.
Segundo Vannuchi, a discussão sobre a ditadura não é revanche. "Ninguém está preocupado em jogar ninguém na masmorra, para que morra lá. Pelo contrário, se quer jogar luz, conhecer para não deixar acontecer outra vez", afirmou, sob aplausos. Apesar de elogiar a composição do grupo de trabalho que preparará o projeto de criação da comissão, Vannuchi previu dificuldades internas para chegar a uma proposta de consenso.
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