Pobre o TRE que o vai receber em seus quadros.
Senhor. Cardoso, Consultor do TRE
Li a carta em que Vossa Senhoria faz diversas acusações à Marinha e termina por colocar-se à disposição para o debate. Evidentemente, não vou debater com você; no final, explico porque. Mas, escrevo para lhe falar da Marinha que conheço, tão diferente dessa que você vilipendiou e à qual passo-me a referir como a sua marinha, em contraposição à minha.
Para melhor posicioná-lo, já que não me conhece, meu nome é ...... Entrei para a Marinha em 1961, quando seu pai, se já nascido, muito provavelmente ainda estava em tenra idade. Hoje, passados quase 47 anos, sou um Contra-Almirante ......, transferido compulsoriamente para a Reserva Remunerada, no início de ...., e que, já no dia seguinte, encontrava-me de volta ao Serviço.........
Como disse, não vou debater com você, mas ocorre que:
- a Marinha que conheço é aquela que desenvolveu um sistema fantástico de aprestamento dos meios, no qual todos os navios, ao final de seus respectivos períodos de manutenção geral (PMG), que culminam com a verificação do alinhamento de todos os sistemas (sensores, armas, navegação, etc.), são submetidos a diversas inspeções, tais como verificação de alinhamentos, inspeção de chegada, inspeção inicial, PAD-CIASA (Programa de Adestramento da Comissão de Inspeção e Assessoria de Adestramento) e, finalmente, inspeção de eficiência, na qual, se lograr êxito, o navio e sua tripulação alcançam a fase III de adestramento, significando que estão prontos para o combate. Para tanto, a Marinha conta com considerável estrutura, envolvendo desde os órgãos de reparo do Setor do Material (AMRJ, CETM, CAM, por exemplo) e das oficinas das Bases Navais (BNRJ, BACS), até os órgãos responsáveis pela prontificação final, como o CASOP (Centro de Apoio a Sistemas Operativos) e o CAAML (Centro de Adestramento), órgão da Esquadra responsável pelo PAD-CIASA (penso que você saiba do que estou falando, não?).
Graças a isso, nossa Marinha é uma das poucas capazes de operações noturnas, no mar, com helicópteros, lançados e recolhidos por nossos navios-escolta. Você sabia disso? Consegue imaginar o grau de aprestamento requerido para tanto? Também, o Submarino Tikuna acaba de retornar de cinco meses de operação junto com a Esquadra Americana, no Atlântico Norte, onde se destacou pela dificuldade em ser detectado e pelo êxito obtido nos ataques aos porta-aviões americanos, como reconhecido em ofício enviado por aquela Marinha. Impressiona, também, um submarino construído no AMRJ ter a resistência material por ele exibida, e a capacidade logística da MB, de mantê-lo em operação afastada por tanto tempo. Será que você realmente imagina que todos esses feitos possam ser levados a cabo por gente que só faz “balanço de paiol”, contando vidros de maionese? A sua marinha, inexplicavelmente, parece ter passado ao largo de tudo. Fico imaginando por onde terá andado.
- a Marinha que conheço constrói submarinos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (o último, o Tikuna, recém-terminado), colocando o Brasil no seleto clube de países com tal capacidade instalada. Também, moderniza fragatas (seis unidades classe Niterói), integrando seus sistemas e colocando-as no estado da arte, e inicia, no momento, o processo de modernização das Fragatas classe Greenhalgh e das Corvetas classe Inhaúma, ao mesmo tempo em que já iniciou a modernização dos submarinos classe Tupi e prepara, com bastante antecedência, a modernização do próprio submarino Tikuna, recém-construído. A sua marinha, segundo consta da carta que escreveu, compra material descartado por outros países, achando que é o máximo. Parece não lhe ocorrer que, se deficiências temos, não é porque a Marinha assim o deseje, mas porque faltou visão ao Governo e à Sociedade, que, por não terem percepção de ameaça (o que é muito diferente de não ter ameaças), relegaram o aparelhamento das Forças Armadas, ao longo dos últimos 15 anos. Mas até isso começa a mudar; basta ler os jornais. O notável é que, a despeito desse descaso governamental, a Marinha fez muito mais do que podia. Lamentavelmente, a sua marinha só se preocupa em gerar recursos à custa da qualidade do rancho, para, com isso, comprar material para o navio. Digo-lhe que, exceto por eventuais casos isolados, - se os há -, não têm a dimensão dramática que você apresenta. E, convenhamos, nada tem de ilegal, posto que previsto em legislação própria, e muito menos de imoral, posto que redunda em benefício dos próprios sacrificados.
- a Marinha que conheço é uma instituição que sempre esteve à frente de seu tempo. Apenas alguns exemplos, para consubstanciar o que digo:
a) quem introduziu o processamento de dados (Informática) no Brasil foi a Marinha (ver o livro Lanterna na Popa, de Roberto Campos);
b) quem, desde os anos 1950, busca o domínio da energia nuclear, para o Brasil, é a Marinha, que logrou colocar nosso país como um dos nove países no mundo capazes de enriquecer urânio;
c) quem garantiu alguma posição para o país na Antártica foi – e continua sendo – a Marinha, que lá mantém, desde 1984, a Estação Comandante Ferraz (lamentavelmente, a Sociedade ainda não se deu conta do significado disso);
d) quem garantiu, para o país, uma vastidão oceânica equivalente à área da Amazônia foi a Marinha, que, além de realizar o esforço principal no trabalho do LEPLAC (levantamento da plataforma continental, para estabelecer a área oceânica pertencente ao Brasil, além do limite marítimo das 200 milhas da Zona Econômica Exclusiva), enviou um Almirante à ONU, para defender os resultados do trabalho e lograr sua aprovação. Enquanto isso, na sua marinha parece haver apenas um bando de alcoólatras, preocupados apenas com a idade do whiskey.
- a Marinha que conheço luta sem verbas; produz e realiza, sem verbas. Faz milagres, pois tudo que descrevi até aqui foi conseguido à custa de muita dedicação, engenho e arte. Você a acusa de “fazer química”. Se química há, eventualmente incorrendo em alguma inconformidade legal, com certeza, não incorre em qualquer inconformidade moral, porque visa o benefício da instituição, e não de pessoas. Enquanto a Marinha luta sem verbas, entretanto, há outros setores nacionais, como ocorre com diversos “tribunais”, que dispõem de recursos para obras faraônicas, que, em alguns casos, como o do famoso TRT de São Paulo, aquele do juiz Lalau, dão azo ao superfaturamento e outros desvios. Aliás, o próprio TSE parece realizar uma obra dessas. Veja o que consta na revista Consultor Jurídico, de 16 de outubro de 2007, a respeito da construção da nova sede do Tribunal Superior Eleitoral: “O Ministério Público aponta que, de acordo com dados do Tribunal de Contas da União, a obra, que custará R$ 328 milhões, tem problemas como ofensa ao princípio da economicidade, restrição ao caráter competitivo da licitação e superfaturamento. Os procuradores recomendam que, além da suspensão dos trabalhos, a Justiça determine a anulação dos ajustes e, se for o caso, novo processo de licitação”.(Ver a ação civil pública ACP 2007.34.00.036110-0).
- a Marinha que conheço é, como suas congêneres em todo o mundo, ciosa e exigente quanto à observância de suas leis e regulamentos, sejam eles referentes ao Cerimonial da Marinha, à Ordenança Geral para o Serviço da Armada e a todas as demais normas constantes do vademecum naval. Não pode ser diferente; faz parte do estamento militar. Afinal, a experiência acumulada ao longo de séculos por Marinhas tradicionais, depois da experiência adquirida em tempos de guerra e de paz, assim o recomenda. Basta observar como procedem a Marinha Britânica, a Marinha dos Estados Unidos, a da França, a da Espanha, a de Portugal, a do Chile, a do Japão e tantas outras. Daí nossas autoridades exigirem que lhes sejam prestados os cumprimentos previstos. Não é por carência afetiva, como apontado em sua carta. Carência afetiva, segundo o seu padrão de análise, deve ser o do juiz de Direito que moveu um processo judicial contra o porteiro de seu edifício porque queria ser por ele tratado de “Vossa Excelência” (ver: Processo n° 2005.002.003424-4 do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro – Comarca de Niterói – 9ª Vara Cível). Já pensou, que ironia do destino se esse juiz vier a ser seu chefe no TRE? Que saudades da Marinha! No mais, a relevância de certos ritos pode ser exemplificada com o caso recentíssimo daquele ministro do STF que abriu processo administrativo contra um consultor daquele tribunal por tê-lo tratado de “PSIU”, depois de insistentes chamados não atendidos. Nesse particular, a Marinha parece até menos exigente com certos ritos do que o Judiciário.
Ainda, você se queixa de que tinha que estudar em segredo, para evitar perseguição. Nunca soube que a Marinha interferisse com o que quer que seus oficiais estudem em casa. Agora, se você queria estudar a bordo, durante o expediente, não parece honesto; afinal, não era para isso que você era pago com o dinheiro do contribuinte. Quanto a você jactar-se por começar ganhando, no TRE, como um Contra-Almirante mostra que há algo errado. Isso deveria ser motivo de constrangimento, pois não parece certo o mesmo país remunerar igualmente cargos e responsabilidades tão desiguais. Uma distorção dessas não é encontrada em países mais adiantados. Se você é tão crítico com tudo que acha errado, deveria insurgir-se contra esse erro, e não se jactar do seu usufruto.
- Em suma, Senhor Cardoso, a Marinha que conheço, por certo, tem suas mazelas, posto que perfeita não é, mas é infinitamente maior do que o mundinho miúdo, limitado e mesquinho que você procura retratar em sua carta. Ademais, se você estivesse imbuído de honestidade de propósito, limitar-se-ia a enviar a carta para quem de direito, em lugar de ficar incentivando sua disseminação pela Internet, como fez. Nela, você não aponta fatos, mas percepções difusas e genéricas, além de tentar tornar regra eventuais exceções que possa ter constatado. Seu propósito evidente não é o de apontar erros a corrigir; é o de difamar e achincalhar a Instituição. Você deixa transparente sua necessidade de destruir a Marinha, talvez porque necessite destruí-la dentro de si e não consiga. Daqui algum tempo, quando o TRE deixar de ser novidade e você começar a se incomodar com os inconvenientes daí, talvez tenha que encetar novo processo de destruição.
Não tenho procuração da Marinha para falar por ela. Mas falo em meu nome, porque não posso vê-la ultrajada e injustamente vilipendiada, sem nada fazer. No meu modo de ver, a Marinha deveria processá-lo por injúria, calúnia e difamação, levando-o a provar em juízo o que dissemina pela Internet. Vamos ver se nosso pessoal é composto de alcoólatras e maus pais de família, se a administração naval procede ao arrepio das leis e tudo mais o que você disse. Mas isso é apenas minha opinião
No início, disse que não debateria com você e que, ao final, explicaria o porquê. Ocorre que debate pressupõe o confronto de idéias, e sua carta não contém uma única. Trata-se de extenso rol de acusações genéricas e difusas, atiradas no ventilador, com o propósito nítido de denegrir uma Instituição cuja magnitude você jamais alcançará. A atitude de incentivar sua disseminação a quantos a Internet possa alcançar demonstra um espírito mesquinho e vingativo. Falta-lhe grandeza d’alma. Não debato com gente assim. Esta carta não é parte de um debate; constitui ato de desagravo à Marinha, que, lamentavelmente, como todas as naus, acaba por abrigar, - por algum tempo -, alguns ratos em seus porões. Invariavelmente, acabam por abandoná-las. Ainda bem; não são companhia que se deseje.
Postado por MiguelGCF >Visite> Impunidade > Vergonha Nacional>
Um comentário:
Gostei do que o Almirante falou sobre a Marinha do Brasil. É verdade que nossa querida Marinhasobrepõe-se aos rígidos e diminutos orçamentos financeiros para dar a segurança necessária à Nação. É verdade que a nossa querida Marinha do Brasil, tem capacidade para lutar par a par com a maioria das outras Marinhas do mundo, exceto as grandes potências é claro. Mas isto,não é fruto da arbitrariedade que encontramos na maioria dos oficiais mal-formados,e sim, graças a abnegação do pessoal militar do quadro de praças, pois a formação dos Oficiais de hoje, está deixando muito a desejar.Também é verdade que foi a Marinha do Brasil que introduziu a informática no Brasil através da mecanização dos seus Bilhetes de Pagamento, e que na época era o Ministro das Comunicações, o CMG Euclides Quandt de Oliveira grande oficial, competente e visionário.
É verdade a maioria do que o Almirante falou, mas é verdade que na Marinha muitas coisas são erradas, muitos oficiais se acham Prínpes consorte de uma Coroa inexistente. São Abusados, incompetentes e vingativos. Tentam desabafar nas praças, a humilhação sofrida nos trotes da durante os quatro anos de Escola Naval.
Também sofri esses tipos de perseguições porque sempre procurei estudar.É bem vedade que existem grandes Oficiais na Marinha, homens honrados, conscientes, capazes, humanos e líderes. Mas é verdade também, que existem muitos Oficiais e praças canalhas, imcompetentes, invejosos, incapazes de atos humanísticos. São normalmenrte indivíduos frustrados na família, traídos por esposas vadias, por filhos drogados etc... E esses oficiais permeiam a mesma Marinha do Almirante. Eles roubam, desviam materiais, contrabandeiam mercadoris, falcatruam em suas OM, fazem do público uma privada. Todavia, a instituição Marinha do Brasil é muito superior a esse canalhas, e subsiste ante a tantos desmandos e aberrações administrativas. Não é mentira o desvio de verba da alimentação para "Caixas de Economias" absurdas, entretanto em alguns casos, acho que muitos Oficiais honestos aplica o dinheiro emprol da própria guarnição, sempre mais para os Oficiais e menos para as Praças.Mas conheci muitos, muitos mesmo, que roubavam descardamente o dinheiro da alimentação das guarnições, e são casos que foram registrados e apurados pela justiça militar, é só verificar nos tribunais militares. Portanto não é mentira o que o ex-oficial falou nqa sua totalidade, também não se pode aceitar a denegrição da Instituição Marinha do Brasil. Sinto saudades de muitos momentos vividos na Marinha, se não estivesse impossibilitado por problemas de saúde, gostaria de voltar à vida naval ativa, mas com o não posso mais fica só a saudade.Porém, quero dizer ao ALMIRANTE, que na marinha existem dois mundos: um dos Oficiais e outro da Praças. E também existem dois tipos de indivíduos: os que levam a Marinha, e os que a Marinha leva. Quando a marinha se tocar que muitos Oficiais não dariam nem pra ser Oficias de Guardas Noturnas, aí o padrão certamente será melhorado, pois da parte das praças, tenho certeza que o nível melhorou e tende a subir cada vez mais com o advento da informática acessível.Almirante seja realista e honesto com sua convicções.Eu respeito muito pela sua carreira, pois não é fácil chegar a Almirante, mas não se pode negar os desmandos e os conluios que existem onde não devaria existir. Suas respostas são bem fundamentadas, mas há de se entender que este jovem, é fruto dos próprios desmandos que muitos militares fixeram e continuam a fazer, como foi o caso do desmonte dos Ministérios Militares em troca de beníficios aos Oficiais Generais, e isto o senhor não pode negar não é mesmo? Veja o seu próprio caso,aposentou-se num dia, e no outro, já estava de volta ao quartel, foi o que entendí, mas não é coisa rara oficiais da reserva trabalhando nos quartéis, todavia para a praça a dificuldade é enorme, só os peixinhos é que conseguem, e na sua mairia são imcompetentes par asobrviverem aqui forra com este salário defesado e diminuido.Desculpe-me a franquesa mas a verdade deve ser clara!
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