Ponto a ponto General Augusto Heleno                            Pereira
  Chefe militar da Amazônia alerta que                            presença do Estado é indispensável para garantir o                            desenvolvimento sustentável na região. “Não podemos deixar de permitir ao nosso                            povo que tenha ganhos com o que há de rico na                            floresta.” Leonel Rocha Da Equipe do Correio                            Quando deixou o comando das                            tropas de paz da Organização das Nações Unidas (ONU)                            no Haiti, em agosto de 2005, o general Augusto Heleno                            Pereira escolheu o desafio de ser o chefe militar da                            Amazônia. No topo da carreira aos 60 anos e já com                            quatro estrelas, estuda a região desde as academias de                            formação, onde recebeu as principais condecorações.                            Para o antigo pára-quedista e combatente de selva,                            comandar a região era o único posto que lhe atraía.                            Paranaense criado no Rio de Janeiro, casado, dois                            filhos e dois netos, ele percorreu nos últimos dias,                            de avião e helicóptero, longínquos pelotões na                            fronteira norte do país para supervisionar a tropa em                            operação. No seu QG em Manaus, o general recebeu o                            Correio e revelou suas principais preocupações com a                            maior floresta tropical do Planeta.                           Vazio                            de poder na Amazônia                                                                                                                     | Carlos Vieira/CB -                                  25/5/04 |                                                                |                                                              
  |                                                               José Varella/CB -                                  2/12/04 |                                                                |                                                              
  |                                                               
  |    Principais problemas São a                            questão indígena — a mais grave de todas porque                            envolve seres humanos —, as organizações                            não-governamentais mal-intencionadas, a exploração                            ilegal de madeira, da biodiversidade e de minérios,                            além do problema fundiário que se confunde com a                            problemática ambiental. Tudo isto acaba convergindo                            para uma mesma ilegalidade na luta entre o latifúndio,                            os movimentos em defesa da reforma agrária e os                            ambientalistas.
  Defesa No campo                            militar, analisamos duas hipóteses: enfrentar um                            inimigo com maior poder ou qualquer outro com poder                            igual ou menor que o Brasil. Em caso de poderio                            superior, desenvolvemos a estratégica da resistência                            que é para quebrar a vontade do inimigo, através de                            ações de guerra irregular e mesmo de guerra                            convencional, para poder impor um desgaste que ele                            seja levado a abandonar o combate na Amazônia que é um                            terreno difícil. Se o inimigo for de força igual ou                            mais fraca, partiremos para a ofensiva. Nós temos o                            melhor combatente de selva do mundo e tenho a selva                            que é aliada do nosso soldado e um sério problema para                            os supostos invasores que não podem se adaptar                            rapidamente ao meio.
  Risco de conflito                          Quando pleiteamos o reaparelhamento das Forças                            Armadas, não é que temos perspectiva de um conflito na                            Amazônia a curto ou médio prazo. Para enfrentar os                            problemas da região, que são divididos com os países                            vizinhos, todos amigos, precisamos de melhores meios.                            Não para fazer guerra, mas para enfrentar os conflitos                            de interesses.
  Sem Justiça Há um                            claro vazio de poder na Amazônia. Mostrei isto aos                            ministros Nelson Jobim (Defesa) e Dilma Roussef (Casa                            Civil) que visitaram a região. E eles concordaram.                            Quando sobrevoamos a floresta, ficamos com esta                            preocupação. Quando pousamos em algum lugar, temos a                            certeza. E quando chegamos a um pelotão de                            fronteira e verificamos que a única presença é a                            militar, constatamos o vazio de poder.                            Nas áreas onde estão os                            pelotões, existem instalações para outras instituições                            do Estado brasileiro, mas elas não mandam pessoal para                            trabalhar. Com isto, fica                            caracterizado o vazio de poder. Se                            considerarmos o conceito básico de divisão de poderes                            da República, com o Legislativo, Executivo e                            Judiciário, verificamos que só os militares se                            instalaram por lá . Lá, quase não existe Justiça. Há                            uma grande ausência, inclusive dos órgãos de repressão                            de delitos comuns e o poder econômico é precário.                         
  Criminalidade O maior risco é que o                            ilícito comece a se sentir favorecido pelo vazio de                            poder. No momento em que não há como se ter uma                            repressão bem feita de crimes comuns, baseada no                            estado de direito, respeitando os direitos humanos,                            dentro do contexto de presença do estado, estaremos                            favorecendo o ilícito. E, com isto criaremos uma                            situação cada vez mais difícil de ser contornada.                         
  Militares e o crime comum Nós somos                            também responsáveis pelo combate aos crimes comuns                            depois da Lei Complementar 117 que nos dá poder de                            polícia nas regiões de fronteira. Porém, antes de                            adotarmos uma posição repressiva, devemos agir                            construtivamente. Nós precisamos dar às populações da                            faixa de fronteira condições de vida adequadas. Tem                            que haver atendimento de saúde adequado que não pode                            ser proporcionado apenas pelo médico do pelotão de                            fronteira. Esse problema está ocorrendo até em cidades                            maiores como Tabatinga, no estado do Amazonas, onde                            nós absorvemos o hospital porque o governo estadual                            não teve capacidade de mantê-lo. E continuamos com                            grande dificuldade para conseguir médicos civis.. Eles                            preferem trabalhar para organizações                            não-governamentais que pagam mais. A educação é do                            mesmo jeito. Em muitos locais, os professores são                            sargentos ou esposas dos militares. E até os próprios                            índios que estudaram também ensinam. Esses são outros                            pontos de vazio de poder do estado que não cumpre suas                            atribuições. As tarefas primordiais na Amazônia têm de                            ganhar outra dimensão, está na hora de acontecer isto.                         
  Cobiça mundial Estamos vendo que,                            cada vez mais, aumenta a cobiça mundial sobre a                            Amazônia com a redução das possibilidades de expansão                            das nações mais importantes. O mundo está ficando                            pequeno. Nós temos que cuidar dessa nossa                            região e para isto é preciso a presença do Estado,                            inclusive para favorecer os investimentos com                            responsabilidade. O desenvolvimento                            sustentável não vai acontecer enquanto houver vazio de                            poder. Não sei se estamos preparados para proteger a                            Amazônia. Só sei que nunca se conseguiu proteger uma                            região rica como a Amazônia, colocá-la dentro de uma                            redoma. À medida que vamos ganhando conhecimento                            tecnológico e nos tornamos capazes de explorar as                            riquezas da região, fica cada vez mais difícil deixar                            a área em uma redoma.
  Participação da                            sociedade Precisamos fazer com que a sociedade                            brasileira enxergue a Amazônia não como uma coisa                            distante, mas como parte importante e fundamental do                            Brasil. Primeiro, a floresta era chamada de inferno                            verde. Depois, criaram uma imagem mais humana, de uma                            floresta maravilhosa. Nenhuma delas leva ao                            desenvolvimento sustentável. Precisamos usufruir tudo                            o que a Amazônia nos oferece com a preservação                            ambiental. Não podemos deixar de permitir ao nosso                            povo que tenha ganhos com o que há de rico na                            floresta. Daqui a pouco isso tudo pode ser usufruído                            por estrangeiros. Temos que ter um plano que possa ser                            executado a curto e médio prazo. O Brasil precisa                            estar ali com todos os seus instrumentos de poder.. Se                            não formos capazes de atuar desta forma, teremos mais                            da metade do nosso território explorado de forma não                            sustentável. E abrigando em grande escala todos os                            ilícitos.                 |            | 
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