Numa entrevista concedida na semana passada, num quarto de fundos de uma das tais moradias, uma mansão num bairro de Caracas, Goicoechea descreveu o movimento que tem suplantado os partidos políticos tradicionais nas últimas semanas como o mais coeso e respeitado do país contra o governo de Chávez.
“Acreditamos que estamos exaurindo as opções democráticas disponíveis por meio de ações pacíficas”, disse Goicoechea, de 23 anos, um estudante de Direito da Universidade Católica Andrés Bello, referindo-se à oposição dos estudantes à reforma da constituição proposta pelo governo. No polarizado mundo do debate político venezuelano, tais declarações são raras.
Mas o que dizer sobre as acusações da parte de Chávez de que os estudantes querem, em última análise, derrubá-lo do poder? “Queremos uma transformação social, não um golpe”, disse Goicoechea. “O verdadeiro golpe de Estado está vindo de Chávez, que quer se perpetuar no cargo”.
Cerca de 80 mil estudantes tomaram as principais avenidas de Caracas, na quarta-feira, numa marcha em direção à Suprema corte, para pedir que fosse suspenso o referendo a respeito das 69 emendas constitucionais marcado para 2 de dezembro. Quando voltavam da passeata, os alunos foram atacados por homens armados no campus da Universidade Central da Venezuela. Nove ficaram feridos. A violência continuou na sexta-feira, em Mérida, oeste da Venezuela, onde quatro policiais e um civil foram feridos em protestos estudantis.
Enquanto seguem os incidentes antes do referendo, Chávez continua a menosprezar o movimento estudantil, chamando os protestos de “ataque fascista”. O presidente também descreveu os alunos como “filhinhos de papai”, ou seja filhos dos privilegiados que estão resistindo a uma mudança social.
Muitos realmente pertencem à classe média, mas o processo pouco comum de inclusão de estudantes nas universidades públicas venezuelanas, torna difícil encarar essa situação como uma luta de classes.
O movimento comandado por Goicoechea, e por outros garotos na casa dos 20 anos, vem evoluindo desde junho, quando os manifestantes pintaram de branco a palma da mão e inseriram flores nos fuzis de membros das forças de segurança. Desde então, eles têm organizado de maneira eficiente manifestações de protesto em todo o país. “Os líderes estudantis têm mais credibilidade entre a população do qualquer líder de qualquer partido da oposição”, disse o analista político Alberto Garrido.
Chávez é senhor de um apoio fervoroso entre os pobres e seus seguidores controlam todas as instituições do governo federal. O presidente insiste que a reforma constitucional proposta contém medidas necessárias para levar adiante sua revolução - como uma semana de trabalho de seis horas e a reconfiguração das Forças Armadas. O mandato do presidente também seria prolongado de seis para sete anos.
Naturalmente que os estudantes, contrários a essas propostas, não constituem o único movimento nascido nas universidades. Nas últimas semanas, líderes estudantis pró-Chávez também se mobilizaram e ganharam uma ampla cobertura na mídia para explicar suas opiniões.
As tensões entre os dois grupos de estudantes estão crescendo. Robert Serra, um líder estudantil que apóia Chávez, disse que setores da população estão apenas aguardando um aviso para “ocuparem” as universidades Central e Católica Andrés Bello, baluartes da oposição a Chávez.
A intensidade crescente dos protestos dos alunos contrários a Chávez apresenta desafios para ambos os lados. É possível que uma revolução avance existindo um grande número de estudantes que a ela se opõem? Será que outros se juntarão aos estudantes?
“As pessoas deixaram de acreditar nos partidos políticos. Elas não acreditam mais em ninguém”, disse Stalin González, um dos líderes dos protestos de estudantis. “Os estudantes são personagens recém-chegados com uma mensagem diferente”, disse. “Mas isso não quer dizer que sejamos a salvação.”
Por Simon Romero, The New York Times, Caracas (*)
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