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Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

11.12.2007

O rei e o bobo

      As coisas são mais simples do que parecem. Ou mais complicadas. Decidam vocês. Ao longo da vida, li abundantemente sobre Churchill e o papel do estadista inglês na Segunda Guerra Mundial. Mas nenhum livro do mundo pode suplantar a experiência pessoal de visitar a casa onde Churchill nasceu e cresceu. "Casa", aqui, é provocação: Churchill nasceu em Blenheim, um palácio gigantesco, como não existe nenhum em Portugal, a alguns quilômetros da cidade universitária de Oxford.
    Certo dia, decidi visitar a "casa" do homem e, confrontado com a desmesura do espetáculo, entendi a personagem. Churchill era um aristocrata e nenhum aristocrata poderia permitir que a Europa fosse conquistada por um reles soldado austríaco, de bigode ridículo e maneiras provincianas. A observação não é politicamente correta, eu sei. Mas as coisas são como são.
    Sim, na Segunda Guerra era necessário salvar a Inglaterra e a Europa de uma tirania inumana. Mas quando lemos os discursos de Churchill contra Hitler, discursos escritos ainda durante a década de 1930, é impossível, depois de conhecer o berço, não ouvir a indignação de um aristocrata inglês, amante da liberdade e feroz opositor do centralismo tirânico, sobretudo de um centralismo tirânico vindo diretamente da criadagem.
    E não excluo que, nos seus momentos mais pessoais, o velho Winston até imaginasse o boçal Adolfo, entrando pelos salões de Blenheim adentro, com suas botas enlameadas e na companhia de gangsters tão boçais quanto ele. Impossível não sentir um arrepio de horror pela espinha abaixo. Churchill é o exemplo supremo de como o preconceito de classe, às vezes, é uma garantia de salvação democrática.
    A observação não é apenas válida para Churchill. Talvez seja válida para a monarquia como forma de governo. Não sou monárquico, confesso, e não sou monárquico pela razão mais simples: a democracia é o pior regime que existe, com a exceção de todos os outros (Churchill, "dixit").
    Mas também confesso que a monarquia pode ter as suas vantagens: ao não ser democraticamente escolhido pelo povo, o rei não sente a pressão popular e a vontade prosaica de conquistar o poder. E pode assim colocar os interesses do país acima dos interesses de um partido.
    A posição não lhe permite apenas ver mais longe, com um sentido de história e de continuidade que falta aos seus contemporâneos. Permite que o rei não se sinta obrigado a respeitar o pensamento politicamente correto que, como um vírus, subverte a própria noção de civilidade. Porque só devemos ser gentis com quem merece a gentileza.
    E Juan Carlos, rei de Espanha, não foi gentil com Hugo Chávez. Mas por que motivo deveria ter sido? Na 17ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, em Santiago do Chile, o primitivo Chávez entendeu ser seu dever acusar José Maria Aznar, ex-premiê eleito pelos espanhóis, de ser um "fascista". Vindo de Chávez, um herdeiro espiritual de Fidel, a coisa até poderia soar a elogio. Não soou. E depois de Zapatero, atual premiê, ter tentado defender a honra do convento com punhos de renda, o rei disparou um "por que você não se cala?" que gelou a cimeira mas aqueceu meu coração. A grosseria de Chávez só pode ser tratada a tapas e pontapés. Juan Carlos fez um favor a Espanha e, tragicamente, um favor aos venezuelanos.
    Começou por fazer mais um favor a Espanha, dos vários que lhe fez com inaudita coragem. Digo "inaudita" porque nada faria prever que Juan Carlos fosse, como de fato foi, personagem central na consolidação da democracia espanhola. Como é possível que um homem talhado para seguir o autoritarismo de Franco tenha sido crucial no período de transição pós-franquista? Provavelmente, por ter entendido que a Espanha mudara em 1970; e que a mudança exigia desmantelar o regime, convocar eleições livres e elaborar uma constituição democrática, a única forma de garantir a unidade do país contra todas as tentativas de fechamento ditatorial. A democracia espanhola e o espantoso crescimento dos meus vizinhos tiveram em Juan Carlos uma referência e um precursor. Até hoje.
    Mas Juan Carlos não foi apenas precioso para os espanhóis: ao calar a boca de Hugo Chávez, Juan Carlos também falou em nome dos próprios venezuelanos. Sobretudo daqueles que Chávez manda calar com a sua "Lei da Responsabilidade Social" (belo eufemismo), uma medida literalmente fascista que garante prisão (até 20 meses) para todos aqueles que tenham a ousadia de criticar o presidente.
    Uma ousadia que será agravada criminalmente quando a reforma constitucional for aprovada em referendo no próximo mês. Ao permitir a Chávez um reino vitalício e armado, a nova constituição "bolivariana" colocará nas mãos de um caudilho autoritário os frutos do quinto maior produtor de petróleo do mundo. Será um caminho sem retorno para uma Venezuela silenciada e empobrecida, com crime galopante e, ao contrário do que pensam os crentes, com desigualdades sociais que a caridade do Estado, longe de suprimir, acabará por cavar mais fundo ao destruir qualquer possibilidade de investimento e criação de riqueza.
    "Por que você não se cala?", perguntou o rei ao novo bobo da corte. O novo bobo não se cala porque, ao contrário dos antigos, ele gosta de montar o circo para esconder, e não para revelar, as mais tristes verdades.

    da FOLHA 12/11/2007

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