O problema é que Renan descumpriu o combinado, e, como o Alerta revelou com ontem com exclusividade, foi chamado de "cafajeste" pelo presidente Lula, no último encontro que tiveram. O ministro da Defesa (de Renan), Nelson Jobim, foi escalado pelo presidente para obrigar Renan a cumprir o prometido. Dificilmente, irá conseguir. O presidente do Senado tem bala na agulha.
Agora, Renan nega, publicamente, qualquer acordo. E parte para chantagens e ameaças contra os petistas e demais senadores que pedem sua cabeça. Renan joga baixo. Deixa vazar para a imprensa amestrada alguns segredos que podem arranhar (ainda mais) a já nada boa imagem dos petistas e demais colegas de Senado. Renan Calheiros montou seu dossiê com informações comprometedoras contra os senadores usando a estrutura funcional do Senado. E ninguém teve a coragem de propor um processo administrativo contra ele. O falecido ACM caiu porque violou o painel do Senado.
Renan parece imortal, porque se transformou em um arquivo muito vivo. Logo após a revelação de que ele tinha as despesas pessoais pagas por um lobista de empreiteira, o senador começou a preparar sua artilharia de defesa. Convocou a seu gabinete o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, a secretária da Mesa, Cláudia Lyra, e o primeiro-secretário, senador Efraim Morais. Renan teria dado tarefas investigativas a cada um deles. O material produzido levaria um terço dos 81 senadores ao Conselho de Ética.
Agaciel foi encarregado de listar todas as contratações feitas pelos senadores. Efraim recebeu a missão de escarafunchar a prestação de contas da verba indenizatória que os parlamentares recebem a cada mês e elaborar uma relação de todas as viagens oficiais feitas por cada um dos senadores. Cláudia Lyra fez um mapeamento de projetos de interesse dos senadores junto ao governo. Renan ainda pediu a assessores do gabinete que reunissem detalhes dos processos criminais que tramitam na Justiça contra cada um dos senadores.
Em um computador, Renan acrescentou aos arquivos dados de sua própria memória das relações com o governo, em que não faltam histórias de favores, nem sempre lícitos, prestados a alguns colegas. Foi usando tal arsenal que, na sessão nada secreta de 12 de setembro, Renan Calheiros proclamou, em seu discurso: "Aqui não tem ninguém melhor ou pior do que eu. Todo mundo é igual". Renan irritou vários senadores, por abusar da retórica cínica na sua indefensável argumentação.
Os petistas são seus primeiros alvos. Foram assessores de Renan que divulgaram que o senador Tião Viana (vice-presidente do Senado) mantinha uma funcionária-fantasma em seu gabinete. Silvania Gomes Timóteo, segundo o departamento pessoal do Senado, recebia mais de R$ 6 mil reais de salário, mas nunca apareceu para trabalhar. A moça batia ponto na sede nacional do PT, em Brasília, onde assessora o tesoureiro do partido. Constrangido, Tião foi obrigado a dar explicações sobre o caso. Tião foi obrigado a demitir Silvania. Tadinha da fantasminha. Buuuuuuuuuuuuuu.
A Veja revela que a líder do partido, Ideli Salvatti, uma canina defensora de Calheiros, é o alvo mais precioso das ameaças do senador. Renan já mandou dizer à senadora que instalará a CPI das ONGs assim que Ideli ou o PT derem sinal de que mudaram de lado. Ideli tem ligações umbilicais com petistas de ONGs envolvidas em desvios e financiamentos irregulares de campanhas em Santa Catarina, seu berço político. O ataque a Salvati atingiria diretamente a filha (Lurian) e o genro (Marcelo Satto) do presidente Lula.
Na semana passada, em reunião da bancada do PT, oito dos doze senadores do partido defenderam uma manifestação formal pelo afastamento de Renan. Mas Ideli, ainda exercendo o papel de diligente defensora de Renan Calheiros, convenceu os colegas a desistir da proposta em nome da "paz no Senado".
Por Jorge Serrão Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total.
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